Batismo de São José Marello, na Igreja do Corpus Domini

Igreja do Corpus Domini - Visão externa

Sobre a Infância de São José Marello

O Batismo de São José Marello na Igreja do Corpus Domini

Filho de Vincenzo Marello e Ana Maria Viale, casos em 26 de fevereiro de 1843, Giuseppe Marello nasceu no dia 26 de dezembro de 1844. 

Seu nome completo: Giuseppe (em homenagem ao avó paterno), Chiaffredo (em homenagem ao padrinho de batismo), Stefano (em homenagem ao santo do dia).

Giuseppe foi batizado no mesmo dia de seu nascimento, na igreja do Corpus Domini, de Turim.

Seus padrinhos de batismo foram os avós paternos: Giovanni Giuseppe e Lucia Maria Barbero. 

Igreja do Corpus Domini de Turim,
visão interna
A Igreja do Corpus Domini de Turim, atual Basílica do Corpus Domini, foi construída sobre o lugar onde, em 1453, ocorreu o Milagre Eucarístico de Turim, descrito resumidamente a seguir: 

"No Alto Val Susa, em Exilles, as tropas de Renato d’Anjou lutaram contra as milícias do duque Ludovico de Savóia que saquearam o vilarejo e entraram na Igreja. 

Um dos soldados da milícia, forçou a porta do Tabernáculo e roubou o Ostensório com a Hóstia consagrada; envolvendo o furto numa bolsa e montando num jumento dirigiu-se à cidade de Turim. 

Na Praça principal, perto da Igreja de São Silvestre, hoje Igreja do Espírito Santo, lugar que futuramente seria erguida a Igreja do Corpus Christi, o jumento empacou e caiu no chão. Então a bolsa se abriu e o Ostensório com a Hóstia se elevou sobre as casas vizinhas para a maravilha do povo. Entre os presentes, estava o padre Bartolomeu Coccolo, quem foi correndo avisar o Bispo Ludovico do marquesado de Romagnano. 

O Bispo, acompanhado por um cortejo formado pelo povo e pelo clero, se dirigiu à praça, prostrou-se em adoração e rezou com as palavras dos discípulos de Emaús “Permanece conosco, Senhor”. Naquele mesmo momento se verificou outro milagre: o Ostensório caiu no chão deixando livre a Hóstia consagrada que reluzia como o sol. O Bispo elevou o Cálice que tinha nas mãos e lentamente a Hóstia consagrada começou a descer e pousou dentro Cálice. 

A devoção ao Milagre Eucarístico de 1453 foi imediatamente difundida por toda a cidade que promoveu a construção de um nicho no lugar onde ocorreu o Milagre. Posteriormente, o nicho foi substituído pela Igreja dedicada ao Corpo de Cristo. Mas a expressão mais significativa foram as festas organizadas pela ocasião do cinqüentenário e do centenário do Milagre (1653-1703-1753-1853- e em parte 1903). Os documentos que relatam o Milagre são muitos: os mais antigos são três Atos Capitulares dos anos de 1454, 1455 e 1456 e alguns documentos da municipalidade de Turim. 

No ano de 1853 o Beato Papa Pio IX celebrou solenemente o IV centenário do Milagre, cerimônia na qual participaram São João Bosco e Padre Rua. Pio IX para essa ocasião, aprovou o Ofício e a Missa própria do Milagre para a diocese de Turim. No ano de 1928 Pio XI elevou a Igreja do Corpus Christi à dignidade de Basílica Menor. 

A Hóstia do Milagre foi conservada até o século XVI, momento em que a Santa Sé ordenou consumir a Hóstia “para não forçar Deus a fazer um Milagre eterno mantendo incorrupta, como estiveram até aquele momento, as mesmas espécies eucarísticas”. (Fonte: The Real Presence)

Vivamos em Cristo e com Cristo

Dizia São José Marello em 1881, pregando os Exercícios Espirituais às Irmãs do Instituto Milliavacca; 
“Estudemos a vida de Jesus; toda ela é semeada de sofrimentos e de cruzes; leiamos a imitação de Cristo, justamente com o desejo de aprender na vida de Jesus” (Escritos).

Estudar para aprender de Cristo. Aqui também prestamos atenção aos termos utilizados: “estudemos”. O estudo implica necessariamente aplicação com método àquilo que se aprofunda; para que o nosso estudo seja produtivo devemos por em prática aquilo que estudamos. 

Como o camponês semeia e recolhe os frutos de seu trabalho, assim o estudo da vida de Cristo, em todos os seus aspectos, deve trazer os seus frutos com a pratica, porque estudar é como semear. Ler tantos ensinamentos da vida de Cristo e não agir é como ver uma bela árvore viçosa, mas sem frutos. 

O mesmo São José Marello acrescenta: 
“Jesus nos pede de segui-lo, de levar atrás dele a nossa cruz” (Escritos – Diário da Irmã Albertina Fasolis). 
Seguindo com a vida na obediência e no sofrimento, dirá ainda depois. E ainda: 
“Muitos são os exemplos que Jesus nos deu em sua vida, mas o maior é com certeza aquele da sua cruz” (idem).
 Na homilia do domingo 02 de janeiro de 1887, ele aprofunda o pensamento Paulino. Infelizmente Irmã Albertina Fasolis resumiu tudo numa frase só, que é, depois a mais indicativa a respeito do Cristocentrismo da vida a centralidade de Cristo na vida cristã; leiamos: 
“Os mundanos desejam para si muitos anos de vida: o nosso augúrio seja aquele de viver em Jesus Cristo; sim, vivamos Nele e com Ele” (Idem). Não existem votos de felicidade mais bonito para o cristão que aqueles de estar e viver em Cristo, de viver Cristo para ter em Deus o próprio Tu.

Fonte: A Vida em Cristo de São José Marello.                                   
            Pe. Fiorenzo Cavallaro, OSJ

É necessário pedir a igualdade de espírito

É necessário pedir a São José a tranquilidade e a igualdade de espírito: ele era sempre igual a si mesmo, quer quando dava ordens a Jesus, a Sabedoria do Pai, quer quando exercitava a sua profissão, ocupando-se dos trabalhos mais humildes e grosseiros.

São José Marello
Ensinamentos Espirituais - Série: São José

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 de São José Marello, clique aqui.

Alegrai-vos sempre no Senhor...

Alegria
São José Marello
Ensinamentos Espirituais


  1. Alegro-me de que a alegria espiritual floresça também entre os sacerdotes de São José.
  2. Quando em meio às alegrias terrenas podemos fazer resplandecer também um raio das alegrias que vêm do céu, então nosso coração se sente mais satisfeitos, nossa felicidade mais completa.
  3. Vivamos sempre alegres, para aderirmos ao preceito: servi ao Senhor com alegria.
  4. Devemos mostrar também externamente aquela santa alegria e gozo espiritual que Deus nos infunde no coração: e isto tanto quando estejamos sós, como quando estamos acompanhados, conservando sempre um ar doce, alegre, sereno também que alegre aos outros; de tal maneira causaremos felicidade aos outros com os quais convivemos e poderemos ao mesmo tempo avançar a grandes passos na perfeição.
  5. A tristeza é inimiga do bem. 
  6. Devemos ser santamente alegres, sempre contente em tudo, até mesmo de nossas quedas, porque nos fazem humilhar-nos.
  7. Por meio da santa alegria será mais fácil evitar os escrúpulos e vencer as tentações: e mesmo que possa acontecer que em sua parte inferior não sinta alegria sensível e se encontre em nuvens de tristeza, a superior superior, entretanto, esteja sempre em serenidade.

São José Marello e a confiança em Deus

Confiança em Deus
Fonte: Ensinamentos Espirituais de São José Marello
  1. A confiança em Deus dá medo ao demônio. 
  2. Viver dia a dia. 
  3. Cremos em um homem. Como não creremos em Deus? 
  4. A Igreja tem, todavia, tais recursos que faz tremer os seus inimigos. 
  5. A questão do dinheiro tem nos detido demais em baixo, é tempo de dizermos "corações ao alto". E por ocasião dos exercícios espirituais Deus o enche daquela confiança que sustentava o nosso Patrono em todos os passos de sua vida. 
  6. Cristo ressuscitou: Cristo vive; Cristo reina; Cristo está no meio de sua Igreja grandioso e formidável. Ele disse uma grande palavra: confiança, eu venci o mundo. Lutemos e esperemos. 
  7. As forças internas da Igreja se multiplicam na razão contrária a seus recursos externos. 
  8. Renovemos o espírito a cada momento e descansemos na misericórdia do Senhor, que absorve todas as fraquezas de nossa natureza enferma. 
  9. O Senhor sempre faz o que é melhor para o nosso maior bem. 
  10. Oremos ao Senhor nestes santos dias e o bom Jesus se disporá a ajudar-nos em todas as nossas necessidades. 
  11. Deus vela sobre nós com a mais terna solicitude. 
  12. Quando nos ameaça algum perigo então é tempo de confiar em sua Providência e abandonar-nos a ela como um menino entre os braços de sua mãe. 
  13. Fazendo a obra de Deus em silêncio, sem confiar nos homens e em nós mesmos, mas bem cheios de esperança na ajuda sobrenatural, tudo caminha melhor. 
  14. Tudo acontece através da cadeia do tempo e o tempo está nas mãos do Senhor. 
  15. O Senhor nos visita, mas não recusará nossas orações, com as quais lhe suplicamos que nos trate paternalmente, dando-nos agora a força da resignação e depois a graça da consolação. 
  16. Alegremo-nos de que terminaram as contradições e de que faltam adversários para fazer-nos crescer na confiança em Deus. 
  17. No tempo devido (o sabemos por experiência) desaparecem as dificuldades e muda o ânimo de quem as causava e a obra de Deus caminha cercada de novos favores. 
  18. Todo conselho de prudência humana é mais um estorvo que uma ajuda nas obras de Deus. 
  19. Não contemos com a ajuda das riquezas, dos apoios, da estima e dos estímulos do mundo. Ao contrário, que tudo se realize por princípios de fé, com uma ilimitada confiança na ajuda do céu e um sentimento inabalável de agradecimento ao Senhor e somente a Ele, seja na abundância, como na escassez, recordando o "basta a cada dia o seu cuidado" 
  20. Confiemos em nosso bom Deus em toda circunstância; mas seja a nossa confiança como a de um menino, sem levar em conta tantas coisas e tantas preocupações. 
  21. Um menino quando se encontra nos braços de sua mãe e pode estreita-la ao colo, se sente seguro e não tem mais medo de nada, mesmo quando sua mãe é pobre e fraca. Certamente a mãe não poderá lutar contra certos perigos nem defender o menino de todos os inimigos; mas o menino não consegue pensar em um refúgio mais seguro que o seio materno. Com efeito, o amor materno às vezes realiza prodígios, já foi visto mães arrancar o seu filho da boca de uma fera e das chamas de um incêndio! E pensar que este amor não é onipotente e às vezes é menor do que seria necessário. Mas não é assim com o amor de Deus, que tudo pode o no qual nós devemos recorrer pondo-nos nos braços da providência como um menino nos braços de sua mãe. Nossa confiança em Deus deve ser exatamente como a de uma criança, porque Deus nos ama mais que uma mãe. 
  22. Ficar demasiadamente ancioso em relação à graça espiritual que pedimos e que necessitamos pode se constituir num impedimento: devemos entregar-nos nas mãos de Jesus que nos ama tanto e que não permite que caia um fio de nossa cabeça. 
  23. O Senhor nos promete interessar-se de nós com a condição de que nós nos interessemos dEle. Com efeito Ele disse: Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais vos será acrescentado. 
  24. Somos tão pequenos de coração que se uma angústia nos surpreende, imediatamente caímos em ansiedade e desânimo; mas o Senhor nos disse: Acaso pode uma mãe esquecer-se de seu filho? Bem, mesmo que uma mãe se esqueça de seu filho de colo, eu não me esquecerei nunca de vocês. 
  25. Nas bodas de Caná Maria Santíssima não disse a Jesus que fizesse um milagre providenciando o vinho que faltava, apenas lhe expôs simplesmente a necessidade dos noivos, dizendo-lhe: eles não têm mais vinho e deixando Ele atuar. Assim devemos fazer nos também em nossas necessidades e misérias: abrir nosso coração a Ele, que fará o que lhe parecer melhor para o nosso bem. 
  26. Confiar em Deus e não confiar em si mesmo. 
  27. Jesus estava na pequena barca e dormia: o bom Jesus às vezes parece que dorme, mas está bem acordado. Nas tristezas e adversidades da alma parece que Jesus dorme: não, não. Ele não dorme. Ele vê tudo: devemos confiar nEle. Ele está cheio de bondade: quer ajudar-nos. 
  28. Quando a tempestade enfurece e tudo parece perdido, o bom Jesus estende sua mão e acalma os ventos e as tempestades, devolvendo a paz a nossas almas. 
  29. Jesus aparece primeiro a Maria Madalena e a Pedro, os dois penitentes, mostrando-lhes deste modo seu amor preferencial. Devemos humilhar-nos recordando nossas faltas passadas, e devemos ao mesmo tempo confiar em Jesus, que perdoou e preferiu a Madalena, e perdoará e ajudará também a nós. 
  30. São Pedro disse a Jesus: afaste-se de mim que sou pecador, mas ao mesmo tempo imediatamente se lançava aos seus pés para abraçá-los e beijá-los. Assim nós, quando nos aproximamos da Santa Comunhão devemos dizer de coração as palavras que a Igreja nos põe nos lábios: Senhor, não sou digno que entreis em meu coração, mas ao mesmo tempo devemos ir e receber a Jesus com amor e confiança de receber suas graças.

Mestre e modelo de oração

MESTRE E MODELO DE ORAÇÃO

Pe. Antonio Geremia, OSJ


O Superior Geral na carta número 15 (Certosini e Apostoli, fevereiro 1979) nos apresentava o programa espiritual do ano em curso: a oração estudada, amada e vivida.
Penso que este trabalho, também em cumprimento às diretrizes do Vaticano II, deva ser realizado voltando às fontes, isto é ao Fundador.
  E a propósito do Fundador, a ninguém passe desapercebido o “verdadeiro grande dom do ano Centenário: a proclamação da heroicidade das virtudes”.
Agradeçamos ao Senhor, também em nome de todos os outros confrades, que desejaram ver este dia e não o viram. Esta proclamação tira tantas dúvidas e incertezas e trás bem para perto de nós a figura e a vida do Marello. Confesso um meu pecado: no passado, lendo as obras (cartas, pastorais, homilias, direções espirituais, atos para a Beatificação...) batia-me uma dúvida: a esta doutrina corresponderam os fatos?  Ou quem sabe são verdadeiras as teses sustentadas “pelo advogado do diabo”, sobretudo, quando diz respeito da crise vocacional, da sua força de vontade, o seu senso de justiça na questão com a Pequena Casa?
E, confesso, nem sempre, no meu íntimo, fazia pender a balança por parte do Marello.
Agora, ao invés, Roma falou, o Magistério da Igreja se expressou e por isso, toda a minha dúvida sumiu e, conseqüentemente, volto àquelas mesmas fontes com a certeza de ler palavras vividas e encarnadas nos fatos.
- O Marello exercitou de forma heróica as virtudes teologais da fé, esperança, caridade e virtudes anexas.
- O Marello pode ser proposto como “modelo” a todo o povo cristão.
O Marello, mais ainda, deve ser modelo para os seus próprios filhos que no seu nome são reunidos, sobre este modelo formam a sua personalidade e espiritualidade, com o seu estilo cumprem a sua missão na Igreja local e universal.
Ele mesmo escreveu a Pe. Delaude em 23/2/1869: “Uma alma bela como exemplar, e para frente em suas pegadas, a qualquer custo!” Para nós a “alma bela” é  ele, sobre todos os aspectos.
Desta vez a consideramos sobre o perfil de “homem de oração, homem de Deus”.

ESTUDANTE

O ponto de partida do verdadeiro empenho é marcado pela sua “conversão”, e pela sua volta ao Seminário (13/2/1864).  Desde este momento a sua ascese é um crescimento contínuo. As duas “normas agendorum” respectivamente de 1866 a de 1868 nos dão uma primeira idéia da importância que o Marello dispensava à oração. Nelas, querendo programar a “jornada cristã, a jornada de um clérigo estudante” estabelece:
- Pela manhã: Oferecem-se todas as ações a Deus“Iam lucis...” com o oremos.
- Missa: qualquer ponto de meditação preparado “impreterivelmente” na véspera; atenção às orações: entrando na Igreja esquecer de tudo e pensar que está tratando com um Patrão excelso e santíssimo”.
- Recolhimento no Agradecimento, leitura das Cartas de São Paulo e dos Provérbios e Livros Sapienciais.
- Rosário segundo o espírito da Igreja.
- Antes de adormecer, quatro versículos do Testamento para ruminar”.
E confiava na ajuda do Senhor: “Deus que é o Caminho, Verdade e Vida, estará ele no começo da nossa caminhada, nos ensinará a maneira de percorrê-lo e nos acompanhará ao Céu”.
São as premissas fundamentais que, unidas à “vigilância contínua do pensamento... e ao esforço contínuo, para poder reduzir a nossa vontade à sua função”, lhe “darão o primeiro passo e depois a perna continuará por si mesma”.
As mesmas coisas repetiam à vigília de sua ordenação sacerdotal, quando junto com Stefano Delaude, escrevia uma outra “regra” mais rigorosa e detalhada:
“- A oração é meio seguro de perfeição.  Ela deverá, portanto ser considerada como o substrato de todas as nossas ações.
- Ao despertar, o primeiro pensamento deverá ser para Deus; a Deus deverá ser oferecido aquele pouco de violência que exercitaremos ao longo do dia sobre nos mesmos.
- Para afastar possivelmente todas as distrações da oração, entrando na Igreja, precisa um rigoroso silêncio na mente e no coração.  “Age quod agis”(Faça bem o que está fazendo).
Colocar-se logo à presença de Deus e estar diante Dele por todo o tempo dedicado à oração.
No fim do dia, antes de ir dormir, exame rigoroso de consciência, recitação do salmo penitencial Miserere, prostrado no chão.                
- Invocação à Virgem, para que, nos obtenha a pureza dos afetos. Invocação dos Anjos e dos Santos, recolhimento e descanso.
E acrescenta outras regras especiais sobre:
-  maneira de participar da Missa;
- o jeito de fazer frutuosamente as meditações espirituais;
- maneira de assegurar-se a tranqüilidade de espírito e a igualdade de humor.
- maneira de ter a nossa alma em contínuo estado de elevação.

SACERDOTE

A outra etapa da vida de oração pode ser individuada no seu primeiro ano de sacerdócio.
Ocasião: Pe. Stefano Delaude, “operosissimo, incansábilíssimo”, acusa um “enfraquecimento do espírito e um relaxamento de empenho”. Está em crise, diríamos nós hoje.
Confidencia-se com o Marello, que intervém imediatamente com a estupenda carta nº 23 e depois com outras cartas (8 de janeiro a maio de 1869) e o refrão é sempre o mesmo: a oração.
“O que você faz das tuas 24 horas? Quantas delas emprega a rezar, a confessar, a fazer homilia, a recolher memórias do passado e estender planos para o futuro?” (Carta 23)
A oração é antes de tudo ... (Carta 23)
Oração vivaz, constante, importuna... (Carta 23)
- “Adeus, reza e reza muito; estes são dias de recolhimento, preparemo-nos em silêncio, esperando o sinal de Deus”.  (Carta 25)
- “Reza, reza, e reza, não sei recomendar-te outra coisa” (Carta 33)
- “Rezemos muito e de coração; rezemos também quando não temos o gosto da oração; rezemos também na aridez do espírito; rezemos ao bom Deus que nos ensine a amá-lo e que acabe finalmente com a nossa tibieza”. (Carta 33)
Nesta atmosfera de oração nasce em Delaude o desejo da vocação religiosa, e no Marello mesmo manifestam-se os primeiros sinais de generosa dedicação total a Deus que culminarão na primeira idéia de fundar a Companhia de São José “promotora dos interesses de Jesus” (1872) e no desejo da trapa (1873). Não foi  uma brincadeira este desejo ou  uma tentativa de evasão, mas um anseio verdadeiramente grande de silêncio, de solidão, de recolhimento para poder estar na escuta de Deus, em diálogo com Ele, para dedicar-se mais ainda à oração e vida interior.

Fundador e bispo
            Depois deste período nota-se algo de estranho, pelo menos nas cartas: interrompe quase bruscamente a insistência sobre a oração. Por quê? Porque no meu parecer, a oração é agora algo de espontâneo, vivido, diria com a máxima naturalidade e com aquela simplicidade de criança, a quem ele se inspirava. Diria que o Marello supera a esta altura o dualismo, a acaba nele o conflito entre contemplação e ação e tudo procede no equilíbrio mais perfeito entre as duas tendências e no harmonioso crescimento de ambas.
No meio de tanto trabalho e fragmentação de trabalhos, seja quando ainda morava em Asti e depois em Acqui encontra sempre tempo e modo para dedicar-se à oração e a realizar a união da oração com o trabalho cotidiano: vida de oração e oração de vida. E assim, como ele escrevia de Santo Inácio de Loyola que “tinha o mundo nas costas; o coração e a mente grávidos da maior instituição que homem algum no mundo tenha concebido a serviço da humanidade e mesmo assim rezava sete horas a cada dia...”, também ele dedicava muito tempo à oração, tão é verdade que nos processos apostólicos (P.S. parágrafo 965), fala-se de um Irmão Antonio que estava aos seus serviços, que “entrando a noite no seu quarto o encontrou diversas vezes ajoelhado no chão duro, aos pés da cama recitando o rosário ou mergulhado fervente oração que ele ficava profundamente edificado”.
O Marello torna-se assim devagarzinho com o trabalho contínuo sobre si mesmo com a força de vontade sua própria, e com a graça de Deus, aquele homem maravilhoso, que encanta na medida que se conhece:
O homem de fé que se apóia em Deus:
Fé inabalável na Divina Providência...”
“Nenhuma garantia sobre as forças humanas.”
O homem da confiança em Deus:
Renovemos o espírito cada momento e repousemos na Misericórdia de Deus que absorve todas as fraquezas da nossa natureza doente”.
“Devemos abandonar-nos à Providência como  uma criança entre os braços de sua mãe”.
O homem da conformidade à vontade de Deus:
Uniformidade completa à vontade de Deus”.
“Antes de não fazer a vontade de Deus, devemos desejar que nos seja abreviada a vida”.
O homem do abandono em Deus:
Reafirmar a cada instante a confiança no Bom Deus”.
“Ser dócil ao Espírito Santo, deixando-nos conduzir por Ele em todas as coisas”.
O homem que experimenta e saboreia Deus:
O dia transcorreu todo numa alegria inefável para o meu coração; a primeira parte com o Espírito Santo a quem tinha tanta coisas a pedir, e de quem devia receber tantas graças...”(é o dia sucessivo a consagração episcopal – 18/2/1889).
O homem forte que agradece: “também as trevas quando as adensa à vontade do Senhor” que “caminhará a passinhos senão poderá correr em nem ao passo, mas ficará de pé”.
Daqui nasce o seu fascínio:
- Em Asti era notoriamente conhecido como homem de grande oração (Atos da Beatificação).
- O Cardeal Gambá seu filho espiritual, o lembrará como homem de Deus.
- Um professor do seminário está explicando a Sagradas Cerimônias? Aponta o Marello como exemplo. As Irmãs Graglia desejam um orientador espiritual. Não tem dúvida: será o Marello pelo seu jeito de rezar.
- Um senhor de Acqui o encontra pela primeira vez em visita à Cartuxas de Pavia: será impressionado pelo seu recolhimento e a sua devoção.
- Aqueles de Savona podem exclamar: “Como reza bonito o Bispo de Acqui”.

MESTRE

Com esta riqueza e carga interior forma os seus discípulos criando uma verdadeira escola que formará homens de oração. Da história da Congregação que podemos ter toda em nossas mãos, podemos conhecer o que acontecia no Michelerio nos primeiros tempos “O Cônego Marello vinha freqüentemente entre nós para ter palestras nas quais seguindo de perto o Evangelho aprofundava a prática dele...”
Por uma ou duas semanas nos pregou os exercícios espirituais. Insistia também sobre a imitação de São José sobre o silêncio, sobre o costume do sinal da cruz, sobretudo ao entrar e sair do quarto e sobre o costume cumprimentar-nos  com “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”.
O fervor da piedade dos primeiros irmãos no Michelerio era enorme.
E o que acontecia em Santa Chiara? Como se vivia; “Desde o início o Cônego Marello e os nossos se preocuparam com as funções litúrgicas que se realizavam na Igreja de Santa Chiara para que fossem bem celebradas, sejam aquelas ordinárias, seja extraordinárias”. Cuidava-se da exatidão das cerimônias; dava-se importância ao canto sagrado pelo qual se utilizavam as vozes dos Carissimi, dos colegiais e também de pessoas externas... “A santa missa em particular era celebrada por todos os nossos com muita devoção e tinha se tornado proverbial em Asti... Desde o primeiro ano 1884, Cônego Marello quis que se celebrassem solenemente as novenas da Imaculada e do Natal...”.
O ensinamento foi incisivo se de Acqui um ano depois  de sua saída escreve congratulando-se e alegrando-se pelo zelo litúrgico (Carta 190). E de Strevi, descrevendo a vida dos irmãos em férias, anota:
Todos são brilhantes... em meditar, salmodiar, rosariar, etc... tanto que esta casa de férias pode-se dizer que se tornou uma residência de religiosos e a capela um santuário”.
E assim formou o primeiro grupo de almas orantes, cujos nomes são bem conhecidos. Não seria difícil perceber no Marello todas as formas clássicas de oração: adoração, agradecimento, pedido de perdão, invocação de ajuda, nem falta as formas mais modernas, quais a busca da Palavra de Deus.
Nesse sentido são iluminadoras as Cartas Pastorais, nas quais se respira ar de Evangelho, de pedagogia de pura essência evangélica. Nem é o caso de aprofundar as suas devoções particulares ao Santíssimo Sacramento, a Maria Santíssima, a São José... que podem ser aprofundados em outros estudos.
Uma coisa fica clara: O Marello é verdadeiramente homem completo na doutrina e na prática no que diz respeito à oração.

CONCLUINDO.

“- Levantemo-nos então deste baixo horizonte de pigmeus e tomemos o lugar que nos convém como ministros do Senhor Deus”.(Carta 23).
“- Exaltemo-nos nos grandes modelos e trabalhemos”. E também podemos lembrar as expressões claras da Evangélica Testificatio nº 42 “A fidelidade à oração o seu abandono são paradigma da vitalidade ou da decadência da vida religiosa”.
E lembremos a recomendação de Paulo VI: “Devemos restituir à oração a sua primazia, a sua eficiência, o seu empenho, a sua dignidade simples e solene como convém ao culto do verdadeiro Deus e a colóquio filial ao Pai, mediante o Filho, no Espírito Santo” (L”Osservatorio Romano 24/12/1974).
E a pergunta que Paulo VI dirigia aos sacerdotes: “Conservamos o gosto da oração pessoal, da meditação e da liturgia das horas?” L”Osservatorio Romano 30/06/1968).


Artigo publicado em Certosini & Apostoli 3/1979
Tradução pe. Mario Guinonzi, osj

São José Marello e a mortificação

SÃO JOSÉ MARELLO E A MORTIFICAÇÃO
Pe. Mario Zani, OSJ

Jesus Cristo, àquele que o queriam seguir e alcançar a perfeição, punha como condição essencial a renúncia ao mundo e a abnegação de si: "Se alguém quiser vir após mim, renegue si mesmo, tome sua cruz cada dia e mesiga. Quem quiser salvar sua vida, perdê-Ia-á, mas quem perder por causa do meu nome, salvá-Ia-á" (Lc 9,23-25).
Os apóstolos não fizeram outra coisa que reproduzir em si mesmos e repetir aos outros os ensinamentos de Jesus Cristo. "Aqueles que são de Cristo crucificaram suas carnes, juntamente com suas paixões desejos" (GI 5,24), escrevia São Paulo e afirmava: "Trato duramente meu corpo arrasto-o como a um escravo, para que não suceda que, depois de ter pregado aos outros, seja eu mesmo desclassificado" (1 Cor 9,27).
Podemos multiplicar os textos da Sagrada Escritura em geral e os de São Paulo em particular: todos confirmam a necessidade da mortificação em ordem à vida cristã.
Os Padres, os santos de todos os tempos nunca esqueceram este ensinamento: toda a hagiografia está repleta de exemplos e ensinamentos sobre este tema. E não podia ser de outra maneira, porque sempre o homem é filho do pecado, pecador, chamado a uma vida sublime, sobrenatural, na imitação de Cristo, cabeça martirizada de um corpo que não pode deixar de O seguir em tudo.
São José Marello, em sua vida e em sua doutrina, não podia deixar de enveredar por tal caminho.

Na doutrina

“A mortificação é 'abecê' da perfeição" (E.E. 185) - dizia, querendo fazer entender que, na vida espiritual, não se progride de um passo, assim como não se pode aprender ler e escrever corretamente sem aprender o alfabeto. Mortificação, pois, que atinge o homem todo, corpo e espírito: 'Treinemos, de boa vontade, na mortificação deste nosso espírito preguiçoso, desta nossa carne rebelde, desta nossa natureza corrompida; eduquemo-nos para amortificação de tudo o que o nosso coração tem de mais querido" (C. 92).
E por quê isso? Porque "enquanto penitência é cobrança daquilo que devemos no passado, é, ao mesmo tempo, preventivo contra as quedas ou meio útil para aumentar os nossos merecimentos diante de Deus" (E.E. 63). Meio, pois, de reparação de nossos pecados e arma de defesa e de ataque na vida espiritual.
O Marello, porém, bem sabia qual é a origem de todas as nossas quedas: o amor próprio. "O amor próprio, em nossa natureza, um inimigo que nunca conseguimos subjugar completamente e que nos dará motivo de luta até amorte" (E.E. 226). Por isso às grandes mortificações (que podem incentivar à vaidade), ele ensinava a preferir as pequenas e freqüentes e quase incessantes, que nos provêm da vida, das situações comuns, do dever cotidiano (E.E. 62-63).
Por isso mesmo, à mortificação exterior do corpo, tão útil e recomendável, antepunha a mortificação interior do espírito, de longe mais excelente e útil para a alma.
Gostava de repetir as palavras de Santa Tereza: "Que culpa tem ascostas, se língua falha?" (E.E. 285) e acrescentava: "Se não tivermos sorte de sermos mártires da fé, poderemos, porém, sempre ter o martírio espiritual da alma, submetendo e sacrificando nosso juízo, nossa vontade, nosso amor próprio ao juízo, ao querer, ao desejo dos outros, com intenção de fazer coisa agradável Deus; e podemos ter certeza que Deus irá acolher com gratidão estes pequenos humildes sinais do nosso amor para com Ele"(La Via della Perfezione, v. 11, p. 116).

Ele sabia que a finalidade de todo este trabalho de renúncia, de morte a si mesmo, é a união com Deus e por isso dizia:
"Aprendamos nos desligar inteiramente de nós mesmo, de nossos gostos, de nossa vontade, de nosso julgamento, não busquemos em nossas ações outra coisa não ser fazer mais perfeitamente possível santa vontade de Deus" (E.E. 359). A finalidade é, pois, esta: correspondência da vontade, generosidade de vida, união com o sumo bem. Nunca a morte pela morte, mas pela vida.
Esta sublime empreitada poderia assustar se considerada como luta do homem, sozinho, contra si mesmo e contra o demônio; nada de tudo isso. Se a finalidade é a vida de Deus, união sempre mais profunda com Ele, o meio, por assim dizer, é a força de Deus que está em nós e conosco: "Não nos assustenossa fraqueza ... " (C. 46). "Repousemos na misericórdia do Senhor, que absorve todas as fraquezas de nossa natureza doente" (C. 73).

Na prática

Esta, brevemente, é a doutrina. A vida do Marello não foi diferente, muito pelo contrário, a ilumina e a encarna de uma maneira que é tanto mais impressionante, quanto menos aparente.
Caráter volitivo e tenaz, tinha feito o propósito árduo e heróico: "Violência contínua contra nós mesmo", atestou um seu colega de seminário, o cônego Riccio.
Não é por nada que nossos confrades mais antigos notaram sempre nele uma maneira de agir modestíssima e uma singular compostura de pessoa.
Quando estava ajoelhado para rezar, de mãos postas, nunca se apoiava ao genuflexório, não se voltava para a direita ou para a esquerda por simples curiosidade. E eram, é verdade, coisas pequenas, tomadas em si mesmas, mas, pela assiduidades e fidelidade com que eram praticadas, demonstram um grande desapego de si e um domínio sobre si mesmo, que é bem difícil alcançar ...
Sim, domínio de si mesmo. "É um espetáculo digno dos homens dos anjos homem que, em qualquer circunstância, é dono de si mesmo" (E.E. 30). E, escrevendo isso, ele não fazia outra coisa a não ser tocar sem o saber seu panegírico.
Mansidão de alma muito rara, perfeita igualdade de espírito e de humor, tanto que era incapaz de mudanças bruscas e repentinas. Este era o retrato que todos, unanimemente, nos oferecem deste "santo prelado". Mas não foram, estes, dons da natureza.
Caráter vivaz e ardente, muito sensível, venceu a si mesmo, colocando em ato aquela sentença: "Faça sempre contrário daquilo que você gosta"(E.E. 186). Ele, porém, sabia que não estava sozinho nesta luta. Por isso,'Juntamente com penitência" - recomendava - "amemos oração".
Por isso ele era calmo, sereno e tranqüilo. Irradiava ao redor de si aquele "sensus Christi", que é o "senso do otimismo".
A dele era a serenidade e a doçura comunicada pelo "Espírito bom", oqual, como ele afirmava, continuamente "trabalha opera em nossas almas"(E.E. 345).
Assim, tudo nele era corriqueiro, já que sua humildade e modéstia cobria suas obras o mais que lhe fosse possível. Nelas, porém, havia tal perfeição, tal espírito de piedade, tal perfume de virtudes, que tudo nele era admirável e o tornava amável a Deus e aos homens.
"No começo mortificação parece uma coisa assustadora repugna, como de noite, na escuridão, temos medo de qualquer coisa, que não passa de uma sombra. Assim, no inverno, olhar para aquela água fria dá medo, levantar cedo, de manhã, parece crueldade; mas, depois que foi vencida aquele primeira aversão, acostumamo-nos facilmente já nem percebemos dificuldade" (E.E. 48).

Artigo publicado em "Certosini & Apostoli", nQ 5, 1983.

O amor à Igreja e ao Papa nos escritos de São José Marello

O AMOR Á IGREJA E AO PAPA NOS ESCRITOS DE SÃO JOSÉ MARELLO

Sérgio Frasson

Numa realidade como a que é vivida em nossos dias, o que significa "amar a Igreja"?
Nós sabemos que amar, em poucas palavras, significa fa­zer com que o objeto amado seja aquilo que deva ser. Portanto, aplicando este princípio, podemos dizer que amar a Igreja signifi­ca contribuir para que ela seja aquilo que deva ser, ou seja, para que a Igreja possa atingir o fim à qual foi instituída.
Mais concretamente, no contexto moderno, podemos di­zer: amar a Igreja significa viver na Igreja. E é aqui que devemos finalmente fazer entrar no assunto José Marello. Ele amou a Igre­ja? Ou seja, viveu na Igreja?
Como o título do tema faz ver, não é nosso objeto ressaltar este amor pela Igreja no decorrer da vida do Fundador, mas ob­servar como este amor foi expresso nos escritos de D. Marello. Para isso examinaremos juntos aquilo que descobrimos, princi­palmente pesquisando suas cartas.
Vimos que amar a Igreja significa fazer com que ela possa atingir o seu fim. Isto comporta muitas coisas. Antes de tudo, saber submeter aquilo que possa ser de interesse pessoal em vista do bem comum. Corlno afirmou o Marello: "Rezemos. Os tempos tornam-se cada vez mais difíceis. Osinteresses indivi­duais e particulares devem dar lugar aos interesses gerais da Mãe Igreja" (C.32).
Significa sentir e viver intensamente o lugar que cada um ocupa sem querer outra coisa: "Oh, meu caro Estevão escreve Marello Você goza da consolação que eu não tenho, você trabalha bem no meio da Mística Vinha, você trata da grande ta­refa de resgate das almas pecadoras, você guia orebanho do Senhor às pastagens da vida, eu fico aqui fazendo vontade do Superior. Posição diferente, possibilidade diferente de fazer bem, maneira diferente de acumular méritos" (C.22).
Amar Igreja significa viver unidos ela.
Isto quer dizer: sentir as necessidades da Igreja e sofrer, alegrar-se, temer com ela, trabalhar por ela, esperar com ela. A Igreja no séc. XIX foi atacada por todos os lados, e de uma hora para outra temia-se um assalto em massa a ela por parte dos inimigos.
Como poderia um bom filho não se interessar e sofrer com a Mãe comum? "Quantos acontecimentos dentro do nosso microcosmo, na nossa esfera de ação, nesta nossa diocese, na Mãe Pátria, por todo continente europeu e, direi mais ainda, em meio toda peregrina família de Adão; não vale pena abraçar um horizonte mais amplo, que compreende tríplice Igreja militante, padecente triunfante?" (C.25).
E ainda: "Cristo ressurgiu, Cristo vence, Cristo reina, Cris­to está no meio de sua Igreja, poderoso formidável! Ele disse uma grande verdade: 'Coragem, eu venci mundo!'. Combata­mos esperemos" (C.39).
Amar Igreja significa contribuir para sua atualização. Vimos, de fato, que a Igreja é uma realidade dinâmica em contínua necessidade de atualização. Todos, pois, devem cola­borar. E José Marello contribuiu antecipando em um seu escrito uma grande realidade que hoje é muito exaltada. "Direi somente isto: que as forças internas da Igreja se multiplicam na razão in­versa aos meios exteriores" (C.20).
E a Igreja de hoje lhe dá razão. Menos fausto, menos rique­za, mais simplicidade e pobreza, mais interioridade contribuíram para dar à Igreja um outro prestígio, para dar-lhe outra vez aquele prestígio todo espiritual que lhe é necessário para alcançar o seu fim e que no entanto, no decorrer dos séculos passados, foi mui­tas vezes ofuscado.
 Amar Igreja significa sentir-se vinculado, unido todos oscomponentes desta comunidade eclesial.
O dogma do Corpo Místico não pode deixar de ser amado, estimado e vivido por quem ama realmente a Igreja e portanto, quer a sua perfeita unidade. Todos deveriam se sentir unidos e verdadeiramente o são na Igreja. E D. Marello, como ele mesmo atesta, viveu intensamente este dogma. "Asseguro, porém, que se corpo é assediado por mil perturbações, alma está sem­pre na presença de Deus, lá onde todos devemos correr cada momento para renovar as forças. Quando se sentir cansado, erga os olhos, coloque mão sobre coração; você está na presença do Senhor, está com os amigos, está com catolicidade. A co­munhão dos santos é uma grande verdade; erga voz, eu ouvi­rei aquilo que tu dirás. Pai, Filho e irmãos, uma corrente única de amor"(C.23).
Trouxemos alguns testemunhos pessoais do Marello que demonstram o seu amor sincero pela Igreja. Não queremos, po­rém, esquecer ainda um que nos mostra com breves e poucas palavras o que significa amar a Igreja e como foram estas indica­ções o seu pensamento e o seu programa de vida:"Armemo-nos e armemo-nos logo: oração, desapego às coisas que pas­sam, zelo pela glória do Senhor, fome e sede de justiça, operosidade pela salvação das almas, espírito de sacrifício, de mortificação, de penitência: eis as armas que devemos afiar, mantendo-nos todos abraçados à mesma bandeira, atentos ao mesmo apelo, exército permanente da Igreja, à qual nos chamou à sua defesa contra os inimigos poderosos e numerosos" (C.26).
Amor ao Papa.
Deixamos de falar sobre os belos escritos sobre o Papa, argumento que era inseparável daquele da Igreja, para fazer-lhe um aceno à parte, e colocar desta forma em maior destaque o quanto o Marello venerava e estimava o Chefe da Igreja, que para ele se concretizava nos nomes de Pio IX e de Leão XIII.
As cartas que nos reportam a estima que ele tinha pelo Sumo Pontífice são em grande parte do período juvenil, dos pri­meiros anos do sacerdócio, anos onde de maior forma ele deveria sentir o entusiasmo para agir e falar.
Como vimos, eram anos difíceis para a Igreja aqueles do Marello, assim como também para o Papa, seu chefe e guia. Eram os anos da tomada de Roma, da maçonaria, mas eram também os anos do Concílio, da esperança ...
Sim, se esperava em Pio IX e no Concílio, e muito: "Ainda dez meses e23 dias assim se exprimia Marel/o, na expecta­tiva do início do Concílio - edepois veremos Grande Pai dos crentes invocar Espírito renovador ~obre aatormentada huma­nidade. Vinde Espírito Santo renovai face da terra. Coragem, meu Estevão, aquele será grande dia para os homens de boa vontade" (C.23).
Como bom filho, o Marello, naqueles turbulentos aconteci­mentos políticos, sempre permaneceu agarrado àquela que ele mesmo chamava de "âncora de salvação". É uma lei psicológica que a dor comum nos une mais, e assim a cristandade toda se sentia mais próxima ao Sumo Pontífice naqueles anos difíceis.
"Quanto mais os revoltos sentem um desejo de indepen­dência que osleva romper todo jugo de autoridade, por outro lado mais cristão sente atendência em submeter mente ao princípio da autoridade. É uma compensação tornada necessá­ria pelos acontecimentos para reforçar entre osbons vínculo de união, à medida que se vai relaxando entre os maus" (C.69).
A sua afeição pelo Papa é demonstrada especialmente por ocasião das várias audiências tidas com o Sumo Pontífice. Eis como ele nos descreve uma delas: "Somente audiência com Papa (que tive sorte de ver, de ouvir, de tocar à vontade sozi­nho com meu bispo, em seu gabinete particular e o queé digno de nota, na noite do santo Natal; quantas oportunidades preciosíssimasinesquecíveis à minha memória!) me obrigaria escrever duas páginas para desafogar plenamente os senti­mentos que me brotam no coração aquela dulcíssima recorda­ção" (C.60).
"Não me esquecerei jamais de uma sorte tão grande, re­zarei sempreao Senhor para que dê ao bom Papa Pio IX retri­buição pela bênção que ele sedignou implorar sobre mim so­bre os meus queridos parentes naquela noite memorável!" (C.61 ).
Para concluir, ainda um último pensamento. O Marello não é um personagem do passado, mas uma figura rica de ensinamentos também para a realidade atual, como procuramos mostrar.
Ele, de fato, nos ensina que os interesses particulares de todo gênero, também a respeito da Congregação, devem estar sempre subordinados àqueles gerais da Igreja; nos ensina que a ''fome e sede de justiça" são necessárias para podermos ser bons filhos da Igreja e esta ''fome e sede de justiça" compreende o saber reconhecer objetivamente os grandes méritos da Igreja em todo campo, mas ao mesmo tempo também saber revisar even­tuais erros e buscar soluções; nos ensina a amar uma Igreja po­bre exteriormente mas muito rica em suas forças internas.
Artigo publicado em "Joseph", n.7, ju1.1967.
Tradução: Pe. Roberto Agostinho, osj.